segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Um história de vida... em plena construção.

Não poderia falar sobre “Sociedade do Conhecimento”, associado a uma experiência pessoal, sem citar o papel exercido por meu pai em minha formação.

Meu pai foi um homem simples que estudou somente até o 4º ano primário, numa cidade chamada Canavieiras no interior da Bahia; passou fome nas “casas” de pau-a-pique e todas as dificuldades que passam todas as pessoas que vivem abaixo dos níveis de miséria neste país. Chegou ao Rio de Janeiro, aos 22 anos de idade, no ano de 1972. Formação e conhecimento intelectual não eram requisitos primordiais para se conseguir trabalho ou até mesmo emprego, e meu pai que trabalhou em mercados, lojas, vendas, sapatarias e alfaiatarias, enfim se tornou alfaiate, ou pelo menos um “costurador de tecidos”.

Com a ajuda de uma família rica que empregava minha tia como babá, ele teve a oportunidade de “aprender”, “conhecer”, “desenvolver” a prática da alfaiataria com o corte refinado de quem freqüentava as altas rodas da sociedade carioca, para enfim poder ser apresentado para outras famílias ricas, que poderiam ter um serviço de alto valor agregado por um preço abaixo da média, mas muito acima para a média de renda até então conhecida por ele.

Discreto, paciente e apesar da origem miserável apresentava uma boa adaptabilidade aos novos ambientes. Além da qualidade do serviço, meu pai atendia aos clientes quando e onde eles quisessem (domingo, no Leblon as 08:00h da manhã – terça, no escritório no centro as 16:30, ok) o problema foi que a demanda aumentou e meu pai não teve a iniciativa para disseminar o conhecimento absorvido e atitude empreendedora para multiplicar e crescer assim, sem saber, ele em sua trajetória contava a história da sociedade humana, através da produção agrícola, artesanal até sucumbir pela revolução industrial e sua produção em massa. Meu pai perdeu espaço para as grandes marcas e para um público jovem que creditava valor a outros valores, como a etiqueta de marca o glamour da roupa sob medida já não compensava seu preço elevado.

A grande lição dessa história, tanto para o meu pai quanto pra mim, foi perceber que as diferenças de classes, de riquezas e do que somos hoje podem ser dirimidas através do conhecimento, da nossa sabedoria, do que somos capazes de produzir pela aplicação do nosso saber. Quando se concorre, por exemplo, em provas de concurso, não importa onde se mora ou se estudou, naquele momento somos todos iguais diferenciados pelo conhecimento que adquirimos e pela forma em que vamos aplicá-lo.

Eu nasci como meu pai, muito pobre, na Vila Operária em Duque de Caxias, mas fui criado em São João de Meriti, ambos, municípios da esquecida Baixada Fluminense. Sem posses, sem eira e nem beira, só me restava estudar. Meu pai me levava ao centro da cidade nos escritórios de seus clientes para que eu pudesse entender e acreditar que era possível mudar a história através do estudo, alguns de seus clientes venceram assim, fazendo a diferença pelo conhecimento, o fator de produção de maior equidade da economia.

Quando cursava a faculdade de Administração, fui convidado a organizar um movimento jovem na igreja católica. Eu não era exatamente um modelo de jovem cristão católico, havia sido presidente de grêmio estudantil e diretor da Assoc. Meritiense de Estudantes, meu perfil era mais revolucionário, mas a oportunidade de trabalhar novamente com a juventude e poder transmitir uma mensagem, uma proposta de mudança, não só pela fé, mas pela atitude proativa de cada um era fascinante e, aos 21 anos, eu e mais uns 15 jovens formamos o grupo jovem Evento, que já nasceu diferente por não ter coordenação e outros “cargos” que eram comuns, até em grupos jovens.

Nosso trabalho era baseado no conhecimento dos participantes relacionado com a atividade que fôssemos realizar, minha função era de um animador que impulsionava e incentivava o coletivo, não permitindo que desanimassem ou desistissem, ao menos antes de tentar.

Foi no desenvolvimento desse trabalho que tive a grata oportunidade de conhecer a história e o legado de Paulo Freire que muito além da consciência passada a mim por meu pai sobre o valor da educação e do conhecimento, me trouxe a reflexão e o questionamento para compreender a necessidade de se aprofundar, entender e buscar os “porquês” que separam de forma tão injusta as riquezas desse país, a concepção da “pedagogia dos dominantes, onde a educação existe como prática da dominação, e a pedagogia do oprimido, que precisa ser realizada, na qual a educação surgiria como prática da liberdade” me fez repensar meu trabalho enquanto atividade social, não bastava dar o peixe e nem só ensinar a pescar, era preciso desenvolver o processo de produção e comercialização, gerar renda, capacitação e desenvolvimento. Infelizmente, não fomos capazes de uma mudança tão grandiosa, mas o pouco que fizemos, inserindo as pessoas assistidas em nossos projetos como participantes efetivas foi significativamente válido para todos nós, a participação nos projetos de alfabetização, por exemplo, na divulgação e visitação a novos alunos, monitoria dos mais antigos aos iniciantes e colaboração em todas as atividades em que pudessem participar, gerava valor e um sentido real de inclusão. Muitos cresceram e se desenvolveram se não como empresários ou doutores, como pessoas conscientes de suas capacidades.

Ao iniciar as atividades acadêmicas no MBKM, com a nossa 1ª disciplina “Sociedade do Conhecimento”, e através da leitura do livro “Gestão de empresas na sociedade do conhecimento” percebi que a dimensão dessa abordagem vai muito além do escopo das empresas, do mundo como negócio, e não se enquadra como um modismo passageiro. Se ontem foi um sonho, hoje já é uma necessidade imperativa a qual o Brasil se encontra em desvantagem por ainda praticar uma pedagogia dos dominantes. Conforme Paulo Freire: “ensinar exige estética e ética” – “Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar.” – “Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado. De testemunhar aos alunos, às vezes com ares de quem possui a verdade, um rotundo desacerto. Pensar certo, pelo contrário, demanda profundidade e não superficialidade na compreensão e na interpretação dos fatos.

Hoje, aos 32 anos de idade, ao refletir sobre a minha própria experiência para inserir-me numa sociedade baseada no conhecimento, lembro das palavras de Martin Luther King, que refletem além das dificuldades a necessidade de lutar e acreditar sempre: “Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito. Não somos o que deveríamos ser não somos o que iremos ser. Mas, graças a Deus, não somos o que éramos”.


Crie – MBKM – Turma RJ18
Trabalho Individual (Sociedade do Conhecimento)

Nenhum comentário:

Postar um comentário